... no dia seguinte a nossa chegada aqui, continuou o Venâncio, o tempo apresentava alguma melhora, embora continuasse ameaçador.
Aproveitando a estiada, e para passar o tempo, comecei a andar por aí: estive no negócio do Salonão, onde matei o bicho e dei dois dedos de prosa a u italiano velho que lá se encontrava e continuei o meu passeio até ao fim da colônia. Quando vinha de volta, ao passar pelas proximidades daquela casinha branca, meu coração deu vários pinotes cá dentro do peito e, como se tivesse levado uma bordoada na cabeça, parei meio desordenado. É que tinha avistado, junto à porta da casinha, a mais bela morena de quantas meus olhos, até então haviam visto. Confesso, sem nenhum acanhamento, que fiquei abobalhado a fitar aquela caboclinha, eu que nunca havia ligado a mulher nenhuma.
Já me encontrava há muito naquela muda contemplação, quando ela deu com a minha presença indiscreta; lançou um rápido olhar para o lado em que me encontrava, sorriu acanhada e sumiu-se no interior da casa. Pois muito tempo ainda fiquei rondando por ali, na esperança de tornar a vê-la, mas foi esperança vã, porque a diabinha não tornou a aparecer. Então, a passos vagarosos e levando dentro do peito os sobressaltos de um amor nascente, tomei o caminho do rancho. Já de longe, voltando-me para a casinha, avistei a moça, de dentro da janela, a acompanhar-me com os olhos.
Estava iniciado o meu primeiro namoro. Primeiro e último...
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Gaveta Velha.
Próximo trecho: O amor e a vida como era vista por um jovem boiadeiro.
Trecho anterior: O velho boiadeiro relembra o velho sertão mineiro.
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