
O movimento político conhecido pelo nome de Aliança Liberal, organizado pelos três Estados: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba para combater a política do Presidente da República, Sr. Washington Luís, teve, como não poderia deixar de ter, a sua repercussão no Distrito de Carmo da cachoeira e o povo cachoeirense formou-se em peso ao lado da Aliança Liberal.
Realizadas as eleições para Presidente da República, em 1929, foi o candidato oposicionista, Dr. Getúlio Vargas, derrotado pelo candidato do Catete, Dr. Júlio Prestes. E nem poderia esperar-se outra coisa, porque mais uma vez foi posta a funcionar a máquina eleitoral do Governo Federal e a fraude, a pressão e o dinheiro do Banco do Brasil, ganharam a eleição. Repetia-se o mesmo que se deu em 1910 com a Campanha Civilista do Senador Rui Barbosa, porém com uma diferença: o povo brasileiro de 1929, já não era o mesmo povo brasileiro de 1910.
Vendo seu candidato derrotado, seus deputados legitimamente eleitos esbulhados para cederem lugar aos candidatos do Presidente da República, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba começaram a preparar-se para a revolução que seria inevitável.
Os altos mandatários da República não quiseram levar em conta a séria advertência do Presidente de Minas, Dr. Antônio Carlos, quando a inquietação que lavrava surdamente entre o povo, preveniu: "Façamos a revolução, antes que o povo a faça".
E a inquietação ia aumentando. Os três Estados que lideravam a Aliança Liberal, contando com grande simpatia nos Estados da Federação, não estavam dispostos a se submeterem às imposições da oligarquia cateteana e, além do mais o bárbaro assassínio do Governador da Paraíba, Dr. João Pessoa, estava a clamar vingança. Seus companheiros de lutas haviam assumido um compromisso de honra com a Paraíba e esse compromisso seria cumprido custasse o sacrifício que custasse.
O Governo Federal estava em contínuo sobressalto e, segundo tudo indicava, bastante preocupado com a situação, porque, a qualquer boato que surgia, punha de prontidão as Forças Armadas.
Naqueles dias tumultuosos, tendo tomado posse como Presidente de Minas, o Dr. Olegário Dias Maciel, por mera delicadeza, passou ao Sr. Washington Luís um telegrama, apenas comunicando-lhe que havia assumido o Governo de Minas Gerais. Interpretando a seu modo os termos do telegrama, o Presidente da República apressou-se em responder, agradecendo a solidariedade do Governo Mineiro ao seu Governo. Tomando conhecimento do fato, o mineiro João Edmundo Caldeira Brant dirigiu ao Sr. Washington Luís uma Carta Aberta, publicada em jornal do Rio de Janeiro e na qual, entre outras coisas, dizia-lhe o seguinte:
"Li a resposta que V.Excia. mandou ao Sr. Olegário Maciel, agradecendo o telegrama que ele, nem mesmo por delicadeza, lhe deveria ter passado; mas pode V. Excia. ficar certo de que os mineiros não voltarão à paz, ao trabalho, enquanto não se vingar das ofensas praticadas contra o Estado de Minas pelo Governo Federal".
Enquanto isso acontecia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba iam preparando cuidadosamente o terreno e aguardavam apenas o momento oportuno para o início da luta armada.
E o momento tão ansiosamente esperado chegou ao soar das dezessete horas do dia 3 de outubro de 1930.
Historiando o início da Revolução, diz Silva Duarte no seu livro "A Revolução Vitoriosa":
"No dia de estalar a revolução, o Sr. Sérgio de Oliveira estava em Belo Horizonte. Contou que o Presidente Olegário Maciel, com relógio na mão, rodeado de políticos e amigos, no Palácio, contava, a cada momento, os minutos que faltavam para o início das hostilidades, exclamando de vez em quando: - Mais 20 minutos... - Está por cinco... No momento exato, o Chefe do Executivo Mineiro levantou-se. Todos os presentes o imitaram. Estava iniciado o movimento que teve o seu epílogo no dia 24 de outubro.'
Realmente. Tão enfraquecido estava o poder do Governo Federal, que bastaram apenas 20 dias para que se consumasse a vitória da revolução, pois a 24 de outubro o Sr. Washington Luís era deposto, assumindo o governo uma junta militar, composta dos Generais Nona Barreto, Tasso Fragoso e outros.
Enquanto durou a Revolução de 1930 os cachoeirense viveram dias de vibração e de nervosismo. Quase não havia notícias, porque todas as comunicações estavam cortadas e as poucas e incertas que recebíamos eram através de alguns boletins ou jornais atrasados, trazidos por aqueles poucos que se aventuram a viajar enfrentando dificuldades e perigos. A cada notícia favorável que chegava, o povo reunia-se na praça ou nas ruas, comentando os acontecimentos.
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
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