
Os homens se distinguem dos animais talvez não por pensarem ou por terem capacidade de imaginação, mas por produzirem seus meios de vida.
Na sua evolução, podemos considerar que o homem sai da condição de animal para a de humano no instante em que, de alguma uma forma, passa a produzir o seu meio de vida, saindo do alheatório, colher, caçar e pescar.
E o homem começa a direcionar transformações dos elementos da natureza para a sua base de sustentação (alimentação). Tudo que se move e se transforma é energia e vem o uso da energia calorífica (fogo) e chega à utilização da energia muscular de outros homens (escravatura).
De qualquer modo, há uma segmentação da humanidade em senhores, escravos e indigentes.
Os senhores do poder, os que começam a controlar as tecnologias, incorporam, como patrimônio exclusivo, as terras das quais se apropriam e até mesmo os homens, que submetem com o uso de alguma tecnologia que lhes permite supremacia: fogo, pólvora, barcos, armas.
Os escravos, ontem nitidamente reconhecidos pela exploração do seu trabalho muscular, principalmente na agricultura e extração de minérios, hoje ganha conotação de "escravos sorridentes", submetidos à condições absurdas de trabalho pela necessidade de alimentar-se para sobreviver.
Os indigentes pululam pelos quatro cantos do mundo, vagando numa vida quase animal, envolvidos pelos vícios ou marginalizados por algum artifício.
Neste contexto, a Europa Ocidental, durante os últimos cinco séculos, arvorou-se em ser a "civilização" e, nesta segmentação, achou-se senhora do mundo, "escolhida" por Deus ou pelo destino para ser hegemônica no mundo.
Durante dois séculos, os países da Europa Ocidental, passaram a ocupar todas as partes do mundo, com viagens ao Caribe, sul da Ásia, China, Pacífico, América, por várias rotas. Inicialmente em descobertas, ao ponto de, em 1780, haverem poucas costas por explorar.
Após as descobertas veio a colonização e a consolidação comercial. Houve uma mercantilização do mundo à medida que os locais descobertos e depois colonizados, ou com pontos comerciais instalados, eram fornecedores de matérias-primas, especiarias e produtos d]que interessem aos europeus, sempre com barganhas e artifícios que os colocavam em situações de troca muito favoráveis.
Os povos de todas as partes do mundo foram envolvidos por um sistema de mercantilismo colonial, com mercados cativos para os manufaturados europeus que iam surgindo. Produziam, fundamentalmente, para o exterior (exportação), sejam especiarias, seja açúcar, minérios. Toda a produção local era controlada e monopolizada pelos europeus, portanto, dirigida para atender aos interesses externos. Aos periféricos reservavam, deste modo, a condição de serem fornecedores das matérias-primas que precisavam para manter o padrão de vida de suas populações.
Para isto, todos os métodos foram usados.Intrigas entre tribos africanas para obter os prisioneiros, transformados em escravos.
Crise artificial de fome, com a compra de toda a produção de arroz estabelecendo um monopólio capaz de impor preços extorsivos. A crise facilitou a dominação que objetivavam - Inglaterra, na Índia.
O ópio foi usado amplamente nos propósitos colonialistas para desagregar e dominar a China.
Entre 1850 e 1913 a África foi dividida em territórios, dominados pelos países europeus. Tinham, assim, as matérias-primas, não existentes na Europa, para o funcionamento de suas indústrias, além de produtos agrícolas.
Nisto tudo há episódios muito sangrentos, mas há, métodos mais sutis, como a catequese dos indígenas, realizada no Brasil.
Se tudo que usamos no nosso dia-a-dia vem da natureza, o aumento da população, o surgimento de variados tipos de manufaturas, alargou em muito a necessidade de matérias-primas e minérios.Os "senhores civilizados" tudo fizeram, então, para perpetuar a segmentação da humanidade e se aliaram à ciência para que o conhecimento não fosse estendido além do necessário para a manutenção da estrutura mercantilista. A religião, também, cooptou-se com os senhores, ao ponto de colocar índios e negros entre os indigentes que nem tinham alma.
Os estudos acadêmicos elegeram "mercado" para ser o equilibrador do mundo.Com o mercantilismo envolvendo o mundo, os "senhores civilizados" europeus firmando, cada vez mais, a expropriação dos países periféricos, propalaram que os mercados nas trocas de mercadorias têm o poder de se auto-equilibrarem, sob a égide de mecanismos de oferta e procura.
Lindo! Mas, como haver livre comércio, equilíbrio de mercados se muitos dos principais produtos do comércio internacional são controlados por pouquíssimas empresas? Que concorrência pode haver?
Diamantes, somente uma empresa controla. Estanho, duas empresas. Petróleo, cerca de seis empresas. A riqueza natural só deve ser vendida por valores que permitam ao produtor criar os seus filhos com dignidade.
Contatos com o autor Rui Nogueira pelos endereços eletrônicos:
próximo texto:
A música da vida.Texto anterior: Rui Nogueira, questionador e desmistificador.
Comentários