A estrutura do relatório [enviada a Metrópole a respeito de uma expedição para conversão dos gentis ocorrida em 1771] em é muito parecida com os documentos das expedições de Minas Gerais. Os seus participantes contavam com o apoio de Deus pois estavam a seu serviço e do Rei de Portugal. Sofriam vários tipos de incômodos e desconfortos, mas tudo era válido porque sabiam que estavam prestando um importante serviço ao Império, dilatando-o em sua extensão e “...Ter acrescentado aos domínios de Sua Majestade... esses grandiosos campos e dilatados sertões...”¹ .
Há no relatório uma preocupação em se descrever o território, suas possibilidades de ser povoado, de desenvolver a agricultura e de localizar ouro. Entretanto, acreditavam que o povoamento só seria efetuado se Deus assim o permitisse. Daí, a presença de religiosos capuchinhos no grupo, as constantes missas e festividades religiosas:
“... no Domingo, dia de Nossa Senhora da Conceição, cantou o reverendo padre frei José a missa, e festejou-se a mesma Senhora com o maior culto, que foi possível, confessando-se muita gente, e quase no fim da missa sucedeo o que consta da relação inclusa: passou-se todo o dia com muito contentamento e vários divertimentos pelo gosto em que todos estavam...”²
Sabiam que para povoar a região - considerada como “... campo fértil...”³ - precisavam construir uma fortaleza “para conservar a obediência dos bárbaros que habitam os Sertões...”4.
Os índios contatados foram os do Grupo Xaclán, conhecidos também como Xokleng. Vivam em áreas de florestas entre o litoral e o planalto de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Paranaguá, no Paraná.
No início dos relatórios da expedição de 1771, as descrições que fizeram destes índios foram as mais elogiosas possíveis: eram dóceis, amáveis, bons, bem feitos de corpos e de cores claras. Assim, conseguiram sem maiores dificuldades trocar presentes e agrados. Das 37 imagens, 11 retratam os índios recebendo objetos e presentes dos brancos. Em apenas três quadros a situação é contrária. O curioso é que os presentes oferecidos pelos índios aos brancos são armas, elemento importante para quem está no meio de uma floresta, seja de que cultura for. Trata-se assim de um presente utilitário. Entretanto, os presentes oferecidos pelos soldados aos índios são espelhos, roupas e toucas, importantes apenas para a sociedade que está ofertando e não para aquela que está recebendo. Não há nesta troca de presentes qualquer tipo de reciprocidade, mas apenas sobre o indígena, uma imposição de elementos valorizados pela cultura católica Ocidental. A principal função da maior parte dos presentes é apenas cobrir os corpos nus dos índios: “... o vê-los mansos causou prazer, compaixão grande foi vê-los nus, sem roupa ou compostura alguma...”5
As imagem demonstram claramente o “antes” e o “depois” do recebimento do presente. O índio nu é retratado com suas armas de selvagem. O que porta roupas já aparece apenas segurando um pedaço madeira.
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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1. Descoberta dos Campos e Guarapuava... Op. Cit. p. 263
2. Idem p. 266
3. Ibdem
4. Ibdem p. 279
5. Ibdem p. 271
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