Nas janelas, as guirlandas De cravos, jacintos, amores-perfeitos Enfeitam, perfumam o ar, E lembram sonhos desfeitos. Já tantos anos passados, Como é doce recordar! Da velha fazenda, os arcanos Quero afora evocar. Maria Antonietta de Rezende
Bela paisagem formada por colinas numa altitude de 1.000 metros e em clima de montanha. Este é o local onde a natureza se ofertou para receber homens arrojados desbravadores corajosos e dar início a mais uma povoação. Seria arriscado precisar datas, no entanto, podemos situar no tempo e espaço da seguinte forma: “(...) do outro lado do rio Verde, no sertão inculto denominado ‘dos negros’”, na comarca do rio das Mortes, termo da vila de São João Del Rey, freguesia de Carrancas e Jurisdição Eclesiástica, se anterior a 4 de agosto de 1900, ao bispado de São Paulo num momento, ou ao de Mariana em outro.
Muitos anos depois, Pe. Godinho assim se refere à sua terra, em seu livro, Todas as Montanhas São Azuis. Reminiscências: "À ordenação sacerdotal foi-me conferida na igreja em que, vinte e seis anos antes, recebera o batismo. Não era a mesma. A bela e velha igreja barroca erguida pelos escravos fora posta abaixo, a pretexto de que a taipa de pilão começava ruir e as obras de talha estariam sendo consumidas pelo cupim... Com a igreja, foi-se o grande cruzeiro do adro, seu contemporâneo”. (Dia de São José, 1ª missa)
Ainda esse autor declara: “(...) É verdade que os negros eram livres sob o aspecto legal, mas sem acesso à escala social, sem participação nos bens da cultura e relegados economicamente a funções e atividades subalternas, não muito diversas das exercidas antes de 1888”.
Outro filho da terra deixou suas pegadas firmes nesse chão. Reverência e profunda gratidão ao Prof. Wanderley Ferreira de Resende que, incentivado pelo amigo Dr. Joaquim Fernandes Vilhena Reis deixou uma produção literária de valor inestimável. Cita em sua obra: “(...) que como seu saudoso pai e como eu muito se interessa pelas coisas do passado desta terra (...)”. Carmo da Cachoeira. Origem e Desenvolvimento.
Novos tempos aguardam resultados vindos da nova geração. Ela saberá, à luz do conhecimento científico, buscar o resgate de nossas origens em documentos históricos. Eles estão lá nos museus nacionais e internacionais, pacientemente aguardando serem tocados, estudados e difundidos.
A juventude lúcida terá como perceber uma “Carmo da Cachoeira” com sua história e processo de desenvolvimento desvinculada de seus vizinhos. Ela tem sua própria história, que passa por crivos importantes ligados aos momentos de sua formação. É a questão religiosa, a questão do índio, a questão do negro, a questão de por que se "aborta" um núcleo de desenvolvimento e se cria outro paralelo, a questão da soberania, a questão do perdão, do bom senso, do entendimento do bem comum, entre outras.
Ficou para trás e pertence ao passado, a Comarca do rio das Mortes, e aquele “aborto”, que com sua ermida, seu caminho e seu cemitério (seria hoje, o “Cemitério dos Escravos”?) não teve oportunidade de ser o centro aglutinador. “A sua maneira, o 2° filho, tão amado quanto o primeiro, e que por acordo entre as partes o denominou, naquele momento a ermida do Carmo". (ver livro da Diocese de Campanha p.99)
Assim, àqueles primeiros moradores e desbravadores, vizinhos da família Rates que acolheram muitas outras novas famílias num ato de solidariedade e com as quais se fundiram numa verdadeira alquimia de transformação. O “sertão inculto”, hoje é a “Carmo da Cachoeira”. Ao processo e seus atores nossa gratidão.
Elevando nosso olhar encontramos a Casa Superior do Paraíso e para lá remetemos nosso pleito de amor incondicional e luz. Lá estão certamente além das estrelas, os nossos antepassados.
Aos moradores que se esforçaram para, a partir da Ermida Nª Srª do Carmo, da Fazenda Maranhão com seu cemitério e sua estrada, nossa permanente lembrança. Sobre sua história, será editada o terceiro livro do escritor Márcio Salviano Villela com o título “Nossa Senhora do Maranhão”. Pela obra e pelo autor, nosso tributo de reconhecimento.
Aos homens de bom senso que se curvaram à dinâmica da transformação que se realiza através dos relacionamentos humanos e conjunturais, nosso respeito. “(...) concordaram que a Ermida do Carmo pudesse servir a ambas as famílias que prosperavam”.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia enfim descolorirá Toquinho/Vinicius de Moraes
Hoje poderemos contar muitas e variadas histórias, falar que, segundo a tradição..., dar vazão ao imaginário popular, sonhar, sonhar... com um amanhã cheio de sonhos e esperanças.
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