As expedições feitas a partir deste momento¹ em Minas Gerais eram grandes em suas formações humanas, caras e de difícil organização e não partiam para destruir um quilombo ou uma aldeia indígena. O objetivo era destruir qualquer elemento que estivesse prejudicando o povoamento e desenvolvimento da região. Após ter solucionado este problema, sesmarias deveriam ser distribuídas a fim de que pessoas idôneas passassem a arcar com a responsabilidade de manter a área livre dos quilombolas e dos índios. Durante a expedição era preciso também criar igrejas, símbolo do poder espiritual sobre os homens; cuidar das pendências judiciais que fossem encontradas; casar as pessoas que viviam em concubinato e iniciar plantações que facilitassem novas expedições, ou conforme eram chamadas, novas entradas². Por tudo isto, fica claro que estas expedições possuíam uma preocupação com a civilidade. Era necessário civilizar estas áreas, até então, entregues aos bárbaros e a necessidade de civilizar era estendida também à população livre que habitava o Sertão. O concubinato, os desmandos dos régulos, a falta de fé, tudo isso deveria ser combatido em nome de uma moral cristã.³ Civilizar neste momento significava não só controlar fisicamente a região mas também transformar aquelas pessoas em súditos leais do rei4.
Para efetuar todos estes passos, as expedições possuíam uma estrutura que pouco se alterava de uma para outra. Através de seu cotidiano pode-se identificar que elas eram chefiadas por um líder poderoso e capaz de manter centenas de homens sob seu controle que exercia plenamente a Justiça sem qualquer questionamento de seus pares ou seguidores. Ignácio Correia de Pamplona, líder de uma das expedições enviadas aos sertões de Minas Gerais, fazia questão de resolver as pendências judiciais, prender criminosos, processar outros e matar os inimigos indígenas e quilombolas5. Pamplona possuía poderes absolutos dados pelo Governador ao lhe patentear como Mestre de Campo e Regente dos distritos de Pium-í, Bambuí, Campo Grande e Picada de Goiás.6
O controle sobre estas regiões tornava-se necessário em função de problemas nas vilas e arraiais mineiros, pois o crescente número de vadios exigia uma solução que passava pelo envio deles a estas áreas. Um outro agravante foi a diminuição do volume de ouro extraído que forçava a busca por novas regiões auríferas. Todavia, para que isto fosse levado a efeito, era necessário que estas regiões do Sertão ficassem desimpedidas de seus “moradores perigosos”.
Para tanto, estas áreas foram sistematicamente visitadas e exploradas por grupos de homens armados e religiosos que buscavam trazê-las para o seio da civilidade. Na realidade, tratava-se de conquistar terras aos grupos tidos como bárbaros e colocá-las sob a tutela do Estado e da sociedade que se imaginava enquanto veículo de civilização.
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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1. Expedições posteriores a 1735 e ainda mais a partir de 1750.
2. Anais da Biblioteca Nacional. Vol. 108, 1988 Op. Cit.
3. Ibdem
4. SILVEIRA, Marco Antônio. O Universo do indistinto: Estado e sociedade nas Minas setecentistas. 1735-1808. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, 1994. p. 27 e ss.
5. Ibdem
6. Provisão de 24 de junho de 1769 e Patente de 26 de junho de 1769.
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