Mesmo tendo abandonado a idéia inicial de que os africanos eram monstros, com metade do corpo de homem e a outra de animal, os europeus e mais precisamente, os portugueses, em momento algum conseguiram ver o africano como um povo semelhante.
Ele sempre foi o outro. E um outro inferior. Daí para a escravidão, foi um passo muito pequeno.
Todas estas imagens preconceituosas chegaram à Europa e rapidamente se espalharam pelo seu mundo colonial, justificando a escravidão deste povo em função de sua inferioridade racial, religiosa e cultural. Eram povos que estavam na perdição. Precisavam do cativeiro físico para se libertar de um outro, ainda maior e de piores conseqüências: o da alma. A escravidão serviria, portanto, para libertá-los do jugo da barbárie. Zurara, por exemplo, justificava a escravidão negra associando-a com o comportamento não civilizado das tribos. Os africanos eram para ele
Ele sempre foi o outro. E um outro inferior. Daí para a escravidão, foi um passo muito pequeno.
Todas estas imagens preconceituosas chegaram à Europa e rapidamente se espalharam pelo seu mundo colonial, justificando a escravidão deste povo em função de sua inferioridade racial, religiosa e cultural. Eram povos que estavam na perdição. Precisavam do cativeiro físico para se libertar de um outro, ainda maior e de piores conseqüências: o da alma. A escravidão serviria, portanto, para libertá-los do jugo da barbárie. Zurara, por exemplo, justificava a escravidão negra associando-a com o comportamento não civilizado das tribos. Os africanos eram para ele
“...seres pecaminosos, bestiais, e, por isso, naturalmente destinados à servidão...”1
Como conseqüência de todas estas elaborações, as imagens que os colonos e mais tarde, os brasileiros fizeram destes cativos foram profundamente influenciadas por estas idéias. Através de práticas cotidianas e de relações pautadas na dominação, a população acabaria tendo contato com estas imagens que criavam, principalmente, a noção de superioridade da raça branca sobre a negra. Esta era diferente e contrária à dos brancos e, em função disto, poderia ser escravizada. Logo as descrições passaram a ser não mais do africano, mas sim de uma nova personagem recriada pela modernidade: o cativo. Tornava-se necessário explicitar quem era e porque deveria viver sob a sujeição do cativeiro. Para isso, os letrados do período colonial foram essenciais.
Para os escritores que trataram sobre a colônia, a escravidão africana era imprescindível para a manutenção e desenvolvimento da terra. Ter escravos era um dos requisitos básicos para quem quisesse tentar a sorte e tornar-se senhor de engenho e de homens.
Estes escritores eram, em sua maioria, jesuítas que vieram para a colônia catequizar os indígenas. Consequentemente, a sua liberdade era básica para que seu projeto de ampliação do número de almas convertidas ao cristianismo fosse levado a efeito. Para eles, somente a escravidão africana seria aceitável e até louvável, já que retiraria os africanos de seu estado bárbaro e lhes ensinaria a verdadeira religião. Assim, percebe-se que para estes autores religiosos haveria duas propostas: aos índios, a catequese; aos negros, o cativeiro.
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
Próximo Texto: O ócio é a escola onde os escravos aprendem a ofender a Deus.
Texto Anterior: Africanos antropofáficos, análise de gravura do século XVI.
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1 SAUNDERS, A .C. de C.M. História social dos escravos e libertos negros em Portugal. Lisboa: Presença. S/data. p. 66
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