Ao que tudo indica, a situação não foi resolvida e, em 1740, D. Luis Mascarenhas, governador de
Goiás, decretou o aprisionamento de índios Caiapós e Paiaguás que foram capturados em Guerra Justa, tendo em vista seus constantes ataques.
“ ...Por quanto é conveniente evitar as contínuas mortes e repetidos insultos e grandes estragos que o gentio bárbaro da nação Caiapó ou Bororo proximamente tem cometido nas vizinhanças do Arraial do Ouro Fino termo desta Vila vindo insultar aos roceiros assistentes naquela paragem em suas próprias casas, matando-lhes suas mulheres, filhos e escravos, e também cavalos, porcos e mais criações, queimando lhe as casas em que habitam e aonde tem recolhido os seus frutos de que resulta grande prejuízo aos povos destas minas e a real fazenda de Sua Majestade. E sendo convocados em Junta os Ministros delas e outras pessoas mais, que todos uniformemente acertaram que era conveniente se praticasse com este gentio o que o dito Sr. Foi servido mandar observar com os Paiaguás e seus confederados Guaicurus e Caiapós: toda a pessoa que quiser ir explorar a campanha e dar nos próprios alojamentos daqueles inimigos para os fazer apartar destas povoações e livrar aos habitadores delas dos referidos insultos lhe prometo em virtude da dita Junta e em nome de sua Majestade de lhe dar por cativos todos os que apanharem e para que venha a notícia de todos se publicará este bando a som de caixas nesta vila e se registrará nos livros da Secretaria deste Governo e aonde mais tocar.” 1
Anos se passaram sem que as autoridades conseguissem efetivamente resolver o problema dos ataques indígenas e, em 1748, o coronel Antônio Pires de Campos obteve autorização para estabelecer aldeias de índios Bororos na área hoje conhecida como o Triângulo Mineiro para servir de escudo contra os Caiapós. Os Bororos deveriam andar “...sempre explorando as estradas fazendo sortidas de umas partes para outras, especialmente pelas paragens em que o gentio caiapó costuma insultar aos viandantes e roceiros afim de os intimidar e evitar com esta diligência as suas hostilidades...” 2
Se no prazo de um ano os Caiapós ficassem sob controle, como recompensa por seus serviços, o coronel receberia o hábito de Cristo e mais 50$ de tença. Se este prazo de tranqüilidade se estendesse por três anos, ele receberia a mercê de proprietário de ofício de escrivão da Ouvidoria de Vila Boa. Entretanto, as coisas não saíram como deveriam. Um mês depois, D. Luis Mascarenhas deixava o governo da Capitania que foi anexada à Capitania do Rio de Janeiro e Gomes Freire Andrade nada fez para cumprir as promessas de Mascarenhas. Quando a capitania de Goiás foi novamente desmembrada, D. Marcos de Noronha que assumiu o governo, também não as cumpriu.
O capitão Antônio Lemos e Farias não estava exercendo seu maior dever que era o de manter as estradas e os caminhos livres dos Caiapós para que os viajantes e os comerciantes pudessem se locomover com tranqüilidade. Sua situação complicou-se ainda mais quando três índios Bororos fugiram da vila onde ele se achava e foram à presença do Conde de Noronha contar que queriam um novo capitão, e que todos estavam descontentes com Antônio Lemos porque “...a única vez que saiu com eles as sertão foi com tão grande equipagem que lhe servia mais de embaraço do que de utilidade a sua pessoa ...”. 3 Os índios exigiam também que fosse escolhido um novo capitão e que este fosse paulista. Os indígenas conseguiram o que queriam. O capitão escolhido foi realmente um paulista e do agrado desses índios porque era “...muito capaz de andar no sertão, do que há larga experiência...”4: o capitão João Pinto de Godói. Este documento é importante porque além de demonstrar que, em alguns casos, os índios conseguiam barganhar e obter o que desejavam, aponta também para a manutenção pelas autoridades de um costume indígena, ou seja, a inimizade entre tribos. Tal inimizade favorecia claramente aos colonos uma vez que, destruído um grupo, diminuia a quantidade de índios não amistosos para se preocuparem.
Goiás, decretou o aprisionamento de índios Caiapós e Paiaguás que foram capturados em Guerra Justa, tendo em vista seus constantes ataques.
“ ...Por quanto é conveniente evitar as contínuas mortes e repetidos insultos e grandes estragos que o gentio bárbaro da nação Caiapó ou Bororo proximamente tem cometido nas vizinhanças do Arraial do Ouro Fino termo desta Vila vindo insultar aos roceiros assistentes naquela paragem em suas próprias casas, matando-lhes suas mulheres, filhos e escravos, e também cavalos, porcos e mais criações, queimando lhe as casas em que habitam e aonde tem recolhido os seus frutos de que resulta grande prejuízo aos povos destas minas e a real fazenda de Sua Majestade. E sendo convocados em Junta os Ministros delas e outras pessoas mais, que todos uniformemente acertaram que era conveniente se praticasse com este gentio o que o dito Sr. Foi servido mandar observar com os Paiaguás e seus confederados Guaicurus e Caiapós: toda a pessoa que quiser ir explorar a campanha e dar nos próprios alojamentos daqueles inimigos para os fazer apartar destas povoações e livrar aos habitadores delas dos referidos insultos lhe prometo em virtude da dita Junta e em nome de sua Majestade de lhe dar por cativos todos os que apanharem e para que venha a notícia de todos se publicará este bando a som de caixas nesta vila e se registrará nos livros da Secretaria deste Governo e aonde mais tocar.” 1
Anos se passaram sem que as autoridades conseguissem efetivamente resolver o problema dos ataques indígenas e, em 1748, o coronel Antônio Pires de Campos obteve autorização para estabelecer aldeias de índios Bororos na área hoje conhecida como o Triângulo Mineiro para servir de escudo contra os Caiapós. Os Bororos deveriam andar “...sempre explorando as estradas fazendo sortidas de umas partes para outras, especialmente pelas paragens em que o gentio caiapó costuma insultar aos viandantes e roceiros afim de os intimidar e evitar com esta diligência as suas hostilidades...” 2
Se no prazo de um ano os Caiapós ficassem sob controle, como recompensa por seus serviços, o coronel receberia o hábito de Cristo e mais 50$ de tença. Se este prazo de tranqüilidade se estendesse por três anos, ele receberia a mercê de proprietário de ofício de escrivão da Ouvidoria de Vila Boa. Entretanto, as coisas não saíram como deveriam. Um mês depois, D. Luis Mascarenhas deixava o governo da Capitania que foi anexada à Capitania do Rio de Janeiro e Gomes Freire Andrade nada fez para cumprir as promessas de Mascarenhas. Quando a capitania de Goiás foi novamente desmembrada, D. Marcos de Noronha que assumiu o governo, também não as cumpriu.
O capitão Antônio Lemos e Farias não estava exercendo seu maior dever que era o de manter as estradas e os caminhos livres dos Caiapós para que os viajantes e os comerciantes pudessem se locomover com tranqüilidade. Sua situação complicou-se ainda mais quando três índios Bororos fugiram da vila onde ele se achava e foram à presença do Conde de Noronha contar que queriam um novo capitão, e que todos estavam descontentes com Antônio Lemos porque “...a única vez que saiu com eles as sertão foi com tão grande equipagem que lhe servia mais de embaraço do que de utilidade a sua pessoa ...”. 3 Os índios exigiam também que fosse escolhido um novo capitão e que este fosse paulista. Os indígenas conseguiram o que queriam. O capitão escolhido foi realmente um paulista e do agrado desses índios porque era “...muito capaz de andar no sertão, do que há larga experiência...”4: o capitão João Pinto de Godói. Este documento é importante porque além de demonstrar que, em alguns casos, os índios conseguiam barganhar e obter o que desejavam, aponta também para a manutenção pelas autoridades de um costume indígena, ou seja, a inimizade entre tribos. Tal inimizade favorecia claramente aos colonos uma vez que, destruído um grupo, diminuia a quantidade de índios não amistosos para se preocuparem.
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1 ARQUIVO DE SÃO PAULO. Documentos Interessantes. n. 22.1896
2 idem p. 210 a 13
3 Carta do Conde de Noronha ao Sr. Manoel de Campos Bicudo. 16.4.1753. 1,4,1 Papeis Vários Documento 19 - Biblioteca Nacional
4 Ibidem
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