TOMÉ, AO TOCAR AS
FERIDAS, CUROU A GRANDE FERIDA DA DESCRENÇA
Estas são palavras de São Gregório
Magno: “O que vocês pensam quando São Tomé não acreditou e Ele voltou para
ser visto, ouvido, tocado e acreditado!? Uma maravilhosa Providência Divina,
visto que Tomé era o único ausente e tudo foi arranjado por Ele para que Tomé
fosse o exemplo da maravilha da misericórdia divina aos descrentes. Tomé, ao
tocar as feridas, curou a grande ferida da descrença.”
É quando
alguém está verdadeiramente decidido a seguir o caminho de Jesus e encontra-se
adiantado na prática do Evangelho que a tentação da dúvida emerge na mente do
cristão. Isto acontece com muitos religiosos que aspiram consagrar-se
inteiramente ao serviço de Deus, em momentos decisivos, como a proclamação dos
votos solenes de alguma ordem monástica. Graças ao voto inicial da obediência,
o tentador não consegue consumar o intento de desencaminhar essa alma da senda
de Jesus, pois sua dúvida é levada ao confessionário e dissipada pelas palavras
experientes e esclarecedoras do Sacerdote. Se o aspirante ao serviço de Deus guardasse
para si essa dúvida e não procurasse orientação de alguém experiente,
provavelmente seria desviado do bom e verdadeiro caminho.
Podemos ver
sob esse prisma a incredulidade de Tomé a respeito da ressurreição de Jesus.
No Evangelho
segundo João, encontramos declarações de Tomé que denotam seu amor por Jesus e
sua coragem de expressar ao Mestre aquilo que ele não entendia.
Marta e Maria
chamam Jesus quando Lázaro está à beira da morte, mas voltar à Judéia após as
ameaças feitas pelos inimigos representava grande perigo. Apesar das objeções
dos apóstolos, Jesus está decidido a ir. “Tomé, chamado Dídimo, disse
então aos discípulos: vamos também nós para morrermos com ele!” (Jo
11.16) Conclamando seus companheiros a seguir Jesus até a morte, que grande prova
de amor ao Mestre!
Na última
ceia, quando Jesus consolando os discípulos disse-lhes: “E vós sabeis o
caminho para onde eu vou”, Tomé toma a iniciativa de perguntar-Lhe sobre o
caminho que conduz ao Pai: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como
podemos conhecer o caminho?” Respondeu-lhe Jesus: “Eu sou o caminho,
a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14.4-6)
Jesus
ressuscitado aparece aos discípulos. Como Tomé esteve ausente, eles lhe
disseram: “Vimos o Senhor.” E ele respondeu: “Se eu não vir nas
mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado,
de modo algum acreditarei.” (Jo 20.25)
Passados oito
dias, Jesus aparece novamente aos discípulos reunidos, Tomé junto com
eles. E disse a Tomé: “Põe aqui o dedo
e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas
incrédulo, mas crê.” Respondeu-lhe Tomé: “Senhor meu e Deus meu!”
(Jo 20. 26-28)
Ninguém até
aquele momento, nem mesmo Pedro e João, havia pronunciado a palavra Deus
dirigindo-se a Jesus. Ao titubeante e sofredor Tomé e à sua necessidade
interior de clareza devemos as confortadoras palavras de Cristo: ”Porque me
viste, Tomé, creste. Felizes os que não viram e creram.” A incredulidade de
Tomé, como também as negações de Pedro, foram consequências do amor e da dor, e
por isso foram transformadas em bençãos e sustento da fraqueza humana pela
misericórdia de Deus.
Felizes os que
acreditamos sem ter visto, só em virtude da palavra dos que viram!
Corajoso e
movido pelo amor a Jesus e à verdade, Tomé superou bravamente essa difícil
etapa da fé: a dúvida. Longe de permitir que o germe da descrença corroesse a
sua convicção em Jesus, ele teve a humildade de confessar sua dúvida e a
ousadia de buscar a confirmação da verdade que trazia em seu coração. Graças a
essa atitude corajosa, nenhuma dúvida pairou sobre a ressurreição de Jesus. Podemos ver no gesto
de Tomé a mão da Providência Divina, para que alguém pudesse tocar as chagas de
Jesus e nenhuma sombra de dúvida pudesse anuviar a certeza de que Jesus havia
ressuscitado.
A dúvida em
Tomé não é falta de fé, mas etapa adiantada de uma fé fervorosa. É uma prova
decisiva. E Tomé passou vitorioso a grande prova da fé, proclamando: “Meu
Senhor e meu Deus!”
Que possamos
aprender com Tomé e seguir seu exemplo, de buscar esclarecimento junto à Igreja
nos momentos em que formos tentados a desviar-nos dos ensinamentos de Jesus.
Que tenhamos a coragem de Tomé, de confessar nossas dúvidas e buscar a verdade!
Pois a lição que ele nos dá é que a humildade de pedir esclarecimento da dúvida
é o caminho para encontrar a verdade e fortalecer nossa convicção interior.
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