Pular para o conteúdo principal

A comunidade rural de Pouso Alegre em Carmo da Cachoeira.


Luiz José Álvares Rubião, em sua obra, “Álbum da Varginha”, publicada no inicio do século XX, já faz referência a essa estância rural. Descreve o perfil de seu proprietário, João Urbano de Figueiredo, como um homem honrado, que escolheu trilhar sempre o “caminho do meio” diante das radicais divergências da opinião pública. Ele buscava reunir as forças da coletividade em torno do progresso local. Diz ele: “no convívio deixa-se dominar sempre pelos impulsos generosos de um coração, onde jamais aninhou o rancor. O sofrimento alheio sempre mereceu seu carinho especial – que o digam os deserdados da sorte que choram seu desaparecimento”. Finaliza ele: “João Urbano, FOI UM CORAÇÃO”.

Por volta de 1885, começa a despontar nas colinas e morros dessa região os primeiros cafezais. O coronel João Urbano foi um dos que apostou no café, por acreditar que a planta compensava generosamente o trabalho de seus “prosélitos”. O ano de 1888, data gloriosa da libertação dos cativos, trouxe mudança no desenvolvimento econômico, que passa da cana, que até então se plantava em larga escala, para a nova lavoura do café, que exigia um pessoal escolhido e numeroso. A imigração italiana salvou, então, a lavoura periclitante. O cafeicultor João Urbano contratou para sua fazenda Pouso Alegre as primeiras famílias de imigrantes italianos. Essa imigração foi uma lasca da rocha viva da nacionalidade italiana. Trabalhadores robustos, ativos e econômicos substituíram a mão-de-obra escrava.

Hoje a Comunidade Pouso Alegre é testemunha fiel da história que nossos livros registraram sobre essa leva de imigrantes. Como aconteceu com seus antepassados, a Comunidade Pouso Alegre constitui-se numa das forças vivas da Paróquia Nossa Senhora do Carmo de nossa cidade. Aos seus integrantes, os Conselhos Paroquiais rendem-lhes homenagem como ordeiros e progressistas imigrantes italianos.

O Livro Tombo II da Paróquia, aberto em 1934 pelo Pe. Dr. Antônio Molina, às fl. 25v, registra a provisão para a Capela de Pouso Alegre nos seguintes termos: “Dom Innocêncio Engelke, OFM. Por Mercê de Deus e da Sé Apostólica, Bispo da Campanha. Aos que esta Provisão virem, saudação, paz e benção em O Senhor. Atendendo ao que nos representou o Revmo. Vigário da Paróquia de Carmo da Cachoeira havemos por bem conceder provisão até 11 de maio de 1940 (...) à Capela de Pouso Alegre daquela Paróquia. Dada e passada aos 11 de maio de 1939...

À folha de número 28, Dom Innocêncio Engelke diz: “Atendendo ao que nos representou o Revmo. Senhor Vigário de Carmo da Cachoeira, havemos por bem conceder-lhe licença para celebrar a Santa Missa durante um ano na Capela de São Sebastião de Pouso Alegre. Dada e passada na Câmara Eclesiástica da Campanha (...) aos 23 de março de 1940.”

Dentre os imigrantes italianos muitos eram católicos e sentiram a necessidade de um local para reunir-se em comunidade e fazer orações. No princípio, a reza dos terços era nas casas e reunia muita gente. O espaço ficava pequeno e, por isso, surgiu o desejo de se construir uma igrejinha. Conversaram com o dono da fazenda e entraram em contato com o Padre que na época concordou. A construção foi feita em regime de mutirão. Durante muitos anos, era a única igrejinha da região. Então, vinha gente de todo lugar, a pé, a cavalo, em trator, em caminhão. Vinham como podiam para as rezas dos terços e das Santas Missas que, na época, era em latim. Era uma verdadeira festa, com muitos convidados. Com o passar dos tempos e, por falta de coordenadores, a igrejinha ficou largada abandonada, esquecida.

O Ministro Antonio Humberto, o “Toninho”, enviado pela Paróquia de Varginha, reuniu um pequeno grupo de jovens e começou a evangelizar a comunidade de porta em porta. Assim foi formado um grupo maior que, em regime de mutirão, recuperou a igrejinha. Todas as sextas-feiras havia encontros para a celebração da Palavra e na Páscoa e no Natal organizava-se festa para as crianças. Toninho foi uma pessoa muito especial, muito boa. Não está mais entre nós, mas trabalhou e batalhou para que esta Comunidade viesse a ser viva e atuante. Ajudou muita gente material e espiritualmente. A fé do povo reacendeu-se. Sua morte foi um baque para todos nós. Seguiu-se a ele o Ministro da Eucaristia Lucas. Ele mora em Varginha, faz parte da comunidade Santa Clara, com o Pároco Padre Marcos. Nossa Comunidade é movimentada com celebrações, terços, grupos de oração e Santa Missa uma vez por mês, com o nosso querido Padre André. Nossa Igrejinha, conforme a data da sua provisão, conta com 73 anos e hoje está passando por reformas. Contamos com doações e a boa vontade de todos. Enquanto isso, nos reunimos em uma garagem de trator, na fazenda vizinha. Mesmo com as dificuldades não paramos. Já temos ministros e coroinhas. No futuro bem próximo teremos a presença do Santíssimo Sacramento de forma permanente e, para que isso aconteça, estamos tomando as medidas de segurança e proteção do maior Tesouro da Igreja de Jesus Cristo que é a Eucaristia.

Contando com a graça, aguardamos que ela se manifeste a todos.

Em oração permanecemos. Amém.

Conselho Administrativo Comunitário
Comunidade Pouso Alegre

Comentários

Arquivo

Mostrar mais

Postagens mais visitadas deste blog

Tabela Cronológica 10 - Carmo da Cachoeira

Tabela 10 - de 1800 até o Reino Unido - 1815 - Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - 1815 ü 30/Jan – capitão Manuel de Jesus Pereira foi nomeado comandante da Cia. de Ordenanças da ermida de Campo Lindo; e ü instalada a vila de Jacuí . 1816 1816-1826 – Reinado de Dom João VI – após a Independência em 1822, D. João VI assumiu a qualidade e dignidade de imperador titular do Brasil de jure , abdicando simultaneamente dessa coroa para seu filho Dom Pedro I . ü Miguel Antônio Rates disse que pretendia se mudar para a paragem do Mandu . 1817 17/Dez – Antônio Dias de Gouveia deixou viúva Ana Teresa de Jesus . A família foi convocada por peritos para a divisão dos bens, feita e assinada na paragem da Ponte Falsa . 1818 ü Fazendeiros sul-mineiros requereram a licença para implementação da “ Estrada do Picu ”, atravessando a serra da Mantiqueira e encontrando-se com a que vinha da Província de São Paulo pelo vale do Paraíba em direção ao Rio de Janeiro, na alt...

A organização do quilombo.

O quilombo funcionava de maneira organizada, suas leis eram severas e os atos mais sérios eram julgados na Aldeia de Sant’Anna pelos religiosos. O trabalho era repartido com igualdade entre os membros do quilombo, e de acordo com as qualidades de que eram dotados, “... os habitantes eram divididos e subdivididos em classes... assim havia os excursionistas ou exploradores; os negociantes, exportadores e importadores; os caçadores e magarefes; os campeiro s ou criadores; os que cuidavam dos engenhos, o fabrico do açúcar, aguardente, azeite, farinha; e os agricultores ou trabalhadores de roça propriamente ditos...” T odos deviam obediência irrestrita a Ambrósio. O casamento era geral e obrigatório na idade apropriada. A religião era a católica e os quilombolas, “...Todas as manhãs, ao romper o dia, os quilombolas iam rezar, na igreja da frente, a de perto do portão, por que a outra, como sendo a matriz, era destinada ás grandes festas, e ninguém podia sair para o trabalho antes de cump...

A família do Pe. Manoel Francisco Maciel em Minas.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Próxima imagem: Sete de Setembro em Carmo da Cachoeira em 1977. Imagem anterior: Uma antiga família de Carmo da Cachoeira.

Postagens mais visitadas deste blog

Tabela Cronológica 10 - Carmo da Cachoeira

Tabela 10 - de 1800 até o Reino Unido - 1815 - Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - 1815 ü 30/Jan – capitão Manuel de Jesus Pereira foi nomeado comandante da Cia. de Ordenanças da ermida de Campo Lindo; e ü instalada a vila de Jacuí . 1816 1816-1826 – Reinado de Dom João VI – após a Independência em 1822, D. João VI assumiu a qualidade e dignidade de imperador titular do Brasil de jure , abdicando simultaneamente dessa coroa para seu filho Dom Pedro I . ü Miguel Antônio Rates disse que pretendia se mudar para a paragem do Mandu . 1817 17/Dez – Antônio Dias de Gouveia deixou viúva Ana Teresa de Jesus . A família foi convocada por peritos para a divisão dos bens, feita e assinada na paragem da Ponte Falsa . 1818 ü Fazendeiros sul-mineiros requereram a licença para implementação da “ Estrada do Picu ”, atravessando a serra da Mantiqueira e encontrando-se com a que vinha da Província de São Paulo pelo vale do Paraíba em direção ao Rio de Janeiro, na alt...

Carmo da Cachoeira — uma mistura de raças

Mulatos, negros africanos e criolos em finais do século XVII e meados do século XVIII Os idos anos de 1995 e o posterior 2008 nos presenteou com duas obras, resultadas de pesquisas históricas de autoria de Tarcísio José Martins : Quilombo do Campo Grande , a história de Minas, roubada do povo Quilombo do Campo Grande, a história de Minas que se devolve ao povo Na duas obras, vimo-nos inseridos como “Quilombo do Gondu com 80 casas” , e somos informados de que “não consta do mapa do capitão Antônio Francisco França a indicação (roteiro) de que este quilombo de Carmo da Cachoeira tenha sido atacado em 1760 ”.  A localização do referido quilombo, ou seja, à latitude 21° 27’ Sul e longitude 45° 23’ 25” Oeste era um espaço periférico. Diz o prof. Wanderley Ferreira de Rezende : “Sabemos que as terras localizadas mais ou menos a noroeste do DESERTO DOURADO e onde se encontra situado o município de Carmo da Cachoeira eram conhecidas pelo nome de DESERTO DESNUDO ”. No entanto, antecipa...

O distrito de São Pedro de Rates em Guaçuí-ES..

Localizado no Estado do Espírito Santo . A sede do distrito é Guaçuí e sua história diz: “ ... procedentes de Minas Gerais, os desbravadores da região comandados pelo capitão-mor Manoel José Esteves Lima, ultrapassaram os contrafortes da serra do Caparão , de norte para sul e promoveram a instalação de uma povoação, às margens do rio do Veado, início do século XIX ”.

O livro da família Reis, coragem e trabalho.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Próxima imagem: 24º Anuário Eclesiástico - Diocese da Campanha Imagem anterior: A fuga dos colonizadores da Capitania de S. Paulo

Distrito do Palmital em Carmo da Cachoeira-MG.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. O importante Guia do Município de Carmo da Cachoeira , periódico de informações e instrumento de consulta de todos os cidadãos cachoeirenses, publicou um grupo de fotos onde mostra os principais pontos turísticos, culturais da cidade. Próxima imagem: O Porto dos Mendes de Nepomuceno e sua Capela. Imagem anterior: Prédio da Câmara Municipal de Varginha em 1920.

Cemitério dos Escravos em Carmo da Cachoeira no Sul de Minas Gerais

Nosso passado quilombola Jorge Villela Não há como negar a origem quilombola do povoado do Gundú , nome primitivo do Sítio da Cachoeira dos Rates , atual município de Carmo da Cachoeira. O quilombo do Gundú aparece no mapa elaborado pelo Capitão Francisco França em 1760 , por ocasião da destruição do quilombo do Cascalho , na região de Paraguaçu . No mapa o povoado do Gundú está localizado nas proximidades do encontro do ribeirão do Carmo com o ribeirão do Salto , formadores do ribeirão Couro do Cervo , este também representado no mapa do Capitão França. Qual teria sido a origem do quilombo do Gundú? Quem teria sido seu chefe? Qual é o significado da expressão Gundú? Quando o quilombo teria sido destruído? Porque ele sobreviveu na forma de povoado com 80 casas? Para responder tais questões temos que recuar no tempo, reportando-nos a um documento mais antigo que o mapa do Capitão França. Trata-se de uma carta do Capitão Mor de Baependi, Thomé Rodrigues Nogueira do Ó , dirigida ao gove...

A família Faria no Sul de Minas Gerais.

Trecho da obra de Otávio J. Alvarenga : - TERRA DOS COQUEIROS (Reminiscências) - A família Faria tem aqui raiz mais afastada na pessoa do capitão Bento de Faria Neves , o velho. Era natural da Freguesia de São Miguel, termo de Bastos, do Arcebispado de Braga (Portugal). Filho de Antônio de Faria e de Maria da Mota. Casou-se com Ana Maria de Oliveira que era natural de São João del-Rei, e filha de Antônio Rodrigues do Prado e de Francisca Cordeiro de Lima. Levou esse casal à pia batismal, em Lavras , os seguintes filhos: - Maria Theresa de Faria, casada com José Ferreira de Brito; - Francisco José de Faria, a 21-9-1765; - Ana Jacinta de Faria, casada com Francisco Afonso da Rosa; - João de Faria, a 24-8-1767; - Amaro de Faria, a 24-6-1771; - Bento de Faria de Neves Júnior, a 27-3-1769; - Thereza Maria, casada com Francisco Pereira da Silva; e - Brígida, a 8-4-1776 (ou Brizida de Faria) (ou Brizida Angélica) , casada com Simão Martins Ferreira. B ento de Faria Neves Júnior , casou-se...

A origem do sobrenome da família Rattes

Fico inclinado a considerar duas possibilidades para a origem do sobrenome Rates ou Rattes : se toponímica, deriva da freguesia portuguesa de Rates, no concelho de Póvoa de Varzim; se antropomórfica, advém da palavra ratto (ou ratti , no plural), que em italiano e significa “rato”, designando agilidade e rapidez em heráldica. Parecendo certo que as referências mais remotas que se tem no Brasil apontam a Pedro de Rates Henequim e Manoel Antonio Rates . Na Europa antiga, de um modo geral, não existia o sobrenome (patronímico ou nome de família). Muitas pessoas eram conhecidas pelo seu nome associado à sua origem geográfica, seja o nome de sua cidade ou do seu feudo: Pedro de Rates, Juan de Toledo; Louis de Borgonha; John York, entre outros. No Brasil, imigrantes adotaram como patronímico o nome da região de origem. Por conta disso, concentrarei as pesquisas em Portugal, direção que me parece mais coerente com a história. Carmo da Cachoeira não é a única localidade cujo nome está vincul...

A Família Campos no Sul de Minas Gerais.

P edro Romeiro de Campos é o ancestral da família Campos do Sul de Minas , especialmente de Três Pontas . Não consegui estabelecer ligação com os Campos de Pitangui , descendentes de Joaquina do Pompéu . P edro Romeiro de Campos foi Sesmeiro nas Cabeceiras do Córrego Quebra - Canoas ¹ . Residia em Barra Longa e casou-se com Luiza de Souza Castro ² que era bisneta de Salvador Fernandes Furtado de Mendonça . Filhos do casal: - Ana Pulqueria da Siqueira casado com José Dias de Souza; - Cônego Francisco da Silva Campos , ordenado em São Paulo , a 18.12. 1778 , foi um catequizador dos índios da Zona da Mata ; - Pe. José da Silva Campos, batatizado em Barra Longa a 04.09. 1759 ; - João Romeiro Furtado de Mendonça; - Joaquim da Silva Campos , Cirurgião-Mor casado com Rosa Maria de Jesus, filha de Francisco Gonçalves Landim e Paula dos Anjos Filhos, segundo informações de familiares: - Ana Rosa Silveria de Jesus e Campos , primeira esposa de Antônio José Rabelo Silva Pereira , este nascido...

A família do Pe. Manoel Francisco Maciel em Minas.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Próxima imagem: Sete de Setembro em Carmo da Cachoeira em 1977. Imagem anterior: Uma antiga família de Carmo da Cachoeira.