Tardezinha de um sábado. No céu pululavam as pipas enfeitadas. As ruas eram desertas. O frio levava as pessoas à clausura domiciliar. Poucos carros circulavam pelas vias públicas. A criançada ia de um lugar para outro. Apenas algumas delas eram estáticas e extasiadas. Estas eram aquelas que no ar colocavam seus brinquedos voadores. Outras corriam de um lado para outro. Algumas pipas escapuliam e até se encolhiam, não querendo ir ao chão, ”derrubadas” na linguagem infantil. Havia crianças que eram especialistas em “cortes”, levando ao chão as menos controláveis e cortadoras, fazendo com que as crianças circulassem, correndo pelas ruas e ruelas e até pelas avenidas, sem conhecer perigo.
Embora o perigo não percebido pelos pupilos circulantes, era temido pelos adultos, que dantes foram exímios naquelas proezas, o olhar de cada um brilhava olhando para o alto. Todos brilhavam nas suas especialidades como também brilhavam os olhares. E a tarde sabática “voava”. Rapidamente passava, não como papeis armados em varetas, bucolicamente confeccionados, para ao ar serem levados, mas como tempo, que dissipa-se em segundos.
A tarde ia em direção à noite e os garotos corriam e buscavam aquelas que eram “cortadas” e, levemente iam caindo.
E nós, adultos, sequer percebíamos a alegria da garotada, ao buscar e levar ao ar, novamente, aquela que antes fora de outrem.
Tristeza de um, alegria de outro. E este contentamento fazia com que os pupilos não percebessem os riscos, não de uma alegria extasiante, mas de algo mais dramático. Sinceramente, a alegria de uma criança sobrepuja todas as percepções de um adulto, que um dia também foi uma criança.
Diác. Adilson José Cunha
01/07/1999
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