Marta Amato (in memorian) em sua obra histórica sobre Carrancas registrou que em 1739 constava no Livro de Provisões da Cúria do Rio de Janeiro de 1728 à 1732 que pertenciam a Carrancas vários cemitérios, onde foram enterrados escravos e desconhecidos falecidos na freguesia. Entre eles o Cemitério do Campo Belo e Cemitério do Deserto do Dourado (hoje São Bento Abade).
Em 1782 consta do Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha a presença da Capela de São Bento do Campo Belo, portanto, um dos cemitérios estaria junto a essa capela e o outro, provavelmente, seria o cemitério da Chamusca.
Como educadores aproveitamos a celebração do Dia de Finados para refletir e despertar o compromisso de toda a sociedade na construção de uma "aldeia educativa", como prevê o Pacto Educativo Global (PDF) proposto pelo Papa Francisco. É o nosso compromisso com a cultura, com nosso passado, com todos os que nos antecederam. Nossa missão é educar, dentro de uma visão abrangente, afinal todos estão envolvidos na formação das crianças e adolescente: famílias, sociedade, igrejas e as escolas.
Abrindo nossos corações oremos pelos que nos antecederam. Que nossos ancestrais descansem em paz.
Cemitério dos Escravos na Fazenda Chamusca
A tradição registra e a Paróquia fiel a essa tradição e as crenças populares anota a fala de antigos moradores, quando de pesquisa realizada no Distrito do Palmital do Cervo, por ocasião das solenidades da comemoração dos 150 anos da elevação da Capela de Nossa Senhora do Carmo em Freguesia, no Município de Carmo da Cachoeira MG.
Trabalhadores rurais, gente simples, honesta, religiosa e cultuadora da tradição repassam, através da linguagem oral, fragmentos da memória que preserva até hoje. Assim, em algumas pessoas permanece a ideia de que, em cima do muro de pedras que cerca o Cemitério dos Escravos havia figuras simbólicas representadas por aves, ferramentas e instrumentos de trabalho como: martelos, turqueses, escadas e, até cravos, “destes que se vê nos pulsos de Jesus Crucificado”, diz um ancião com mais de 100 anos.
Interessante de se notar é que, esses mesmos elementos aparecem desenhados no Adro da antiga Capela da Fazenda do Palmital do Cervo e no oratório da Fazenda Caxambu.
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Cruzeiro do Átrio da Capela do Palmital |
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Oratório da Fazenda Caxambu |
Contam-nos os mais antigos que, havia uma pessoa que mantinha o lugar sempre capinado. Com o passar dos anos e o falecimento deste voluntário o mato tomou conta do cemitério e alguém, para facilitar o trabalho, resolveu queimar o mato, foram-se as belas figuras simbólicas confeccionadas em madeira.
A época, dona Zilah Reis Vilela nascida em Carmo da Cachoeira, em 1919 e hoje falecida, casada com Percy de Oliveira Vilela, fazendeiro, Fazenda das Letras, Fazenda do Paulista e Fazenda da Chamusca, filho de Antonio de Rezende Vilela, fazendeiro e Corina Eulália de Oliveira Vilela, se incomodou ao ver o espaço do cemitério utilizado como pasto para os gados. Tomou providências e instalou um portão visando preservar a memória. Infelizmente as figuras em madeira já haviam sido destruídas e não substituídas.
Em O Patrimônio em Processo, de Maria Cecília Londres Fonseca, publicação UFRJ/MinC-Iphan, Anexo V, Catalogado em, Processos de Tombamentos abertos de 1.1.1970 a 14.3.1990, pg. 277, sob nº 1.299-T-89, está relacionado “Cemitério de Escravos” (Fazenda da Chamusca), Minas Gerais, Carmo da Cachoeira.
Segundo a arqueóloga Maria Luiza de Luna Dias, da Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí, em 1990:
(...) o mais provável é que se trate de um cemitério para pobres e escravos, já que os brancos de maior poder aquisitivo eram enterrados no chão das capelas. Trata-se de um remanescente do início da colonização do Sul de Minas. A hipótese levantada por ela é de que ali estão enterrados os primeiros colonizadores do Estado, bandeirantes e paulistas que tinham o Sul de Minas em suas rotas em tempos remotos, quando estas cidades ainda não haviam sido fundadas.
Luna Dias coordenou as escavações no sítio arqueológico denominado “Cemitério dos Escravos” e as análises foram realizadas no laboratório do Museu de Imagem e do Som do Vale do Sapucaí.
Os registros arqueológicos contêm elementos culturais que foram sedimentados e que fornecem evidências do passado e vem nos socorrer para confirmar a realidade histórica de determinado local. É na compreensão de que o estudo do passado aumenta nossa capacidade de discernir com maior clareza o comportamento manifestado pela sociedade cachoeirense em nossos dias que buscamos nos enveredar nas trilhas que nos levam ao passado.
Carmo da Cachoeira, através da vontade política de administradores públicos competentes e a aprovação da edilidade utilizou desta ferramenta que é a arqueologia para recuperar parte dos primórdios de nossa história. O que nos interessa são os dados recuperados através das constatações reveladas num passado enterrado. Esperamos que historiadores comprometidos com a verdade histórica possam reescrever nossa verdadeira história.
Algumas fotos antigas, em preto e branco, aparece "Tereza do Sapé", como era conhecida Tereza do Carmo Cubateli ou Maria Tereza Alvarenga Cubateli, que desenvolveu as atividades sociais na capital de São Paulo. Ela era uma ativista atuante em defesa a causa negra. Em seu depoimento ouvimos dela o seguinte:
Fui criada na casa dos Alvarenga / Sant´Ana, e só vim a perceber que era negra na vida adulta. Não havia diferença na forma de tratamento que era dado para mim, ou aos filhos do casal onde fui criada. Todos eram tratados igualmente. Frequentei as mesmas escolas, as mesmas igrejas e tínhamos os amigos comuns. Agora, em São Paulo é que me envolvi com os de minha raça. Antes, nem me passava pela cabeça defender um movimento que me era estranho.
Monsenhor Lefort deixou registrado, a próprio punho, como podemos verificar no anexo, o que ele denominou de 1º dos assentamentos de óbitos que conseguiu - ano 1860.
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