A fazenda da Estiva¹ é uma fazenda muito especial para mim. Lá mora meu afilhado Alessandro, sua mulher, a Vera, o filho do casal, a Bruna. Todos vivem na casa que foi do Cici (Família Dias de Oliveira) casado com dona Alice (Família Naves), gente que mora em meu coração. Foi nesta casa que muitas noites pernoitei. Sobre esta fazenda, escreve Maria Antonietta de Rezende:
Estiva Nas janelas, as guirlandas De cravos, jacintos, amores-perfeitos Enfeitam, perfumam o ar, E lembram sonhos desfeitos. Já tantos anos passados, Como é doce recordar! Da velha fazenda, os arcanos Quero agora evocar. Na varanda, minha tia Tecia. Que interessante o tear! A naveta, com maestria, Desliza daqui, prá lá. A cadência bem marcada, A nós, crianças, sugeria Alguma dança fantástica Com címbalos e atabaque, Que nos dizer parecia: - D. Zirica, baque-que-baque ... No salão, meu padrinho, Que era exímio alfaiate, Cortando o brim, a lã, o linho: - Raque-que-raque, raque-que-raque ... E lá embaixo, o moinho Moendo o fubá para o bolo E os passarinhos. E ao lado o velho monjolo Pilando o arroz e a canjica Bate-que-bate, toda manhã: Chuaaá ... pã-pã... No jardim, havia flores, Na primavera e o ano inteiro. Lilases, azaléias, rosas de muitas cores Atraindo os beija-flores, Fazendo a vida mais bela; O jasmineiro-do-cabo, Com seu perfume excitante, E o manacá, na cancela Recebendo os visitantes. Na estrada, o carro de bois Vem cantando uma elegia E, junto dele, os dois - Meu pai que era bom carreiro E, na frente, com ufania, Meu irmão, o candeeiro. No curral, tirar o leite, O balde cheio de espuma, De meu tio era o deleite, Com o calor, o frio, a bruma. Na cozinha, a outra tia Preparava a refeição, Punha a alma nas panelas, E o prato mais trivial, Quando era feito por ela, Ganhava um sabor de festa, Um sabor especial, Tal o capricho que punha Em tudo quanto fazia. E, ali mesmo, o fogareiro, Histórias de assombração, O braseiro, o lampião, E a família reunida em oração. Velha fazenda avoenga! Como é doce recordar O seu passado de glória, Que já ficou na história E jamais há de voltar!
Trecho da obra: Encontros e desencontros de Maria Antonietta de RezendeProjeto Partilha - Leonor Rizzi
1. A fazenda Estiva pertence ao conglomerado - fazenda das Abelhas, dos Naves/Rezende. Fazendas centenárias, pertenciam elas ao Distrito da Boa Vista. Lavras do Funil. Comarca do Rio das Mortes. Partes das terras deste conglomerado, em suas zonas mais limítrofes, ora pertencendo ao município de Luminárias, ora ao de Lavras e, hoje, ao de Carmo da Cachoeira, Minas Gerais. Mais ao sudeste, a fazenda das Abelhas faz divisa com as terras do Município de Três Corações. Muitas crianças desta zona limítrofe estudam aqui, em Cachoeira. O governo do município de Três Corações tem parceria com o do de Carmo da Cachoeira no que diz respeito ao transporte escolar. Muitos pais desta região votam em Carmo da Cachoeira e elegeram este município para a formação de seus filhos.
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