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Crisélia, a 10ª Musa do Panteão Greco-brasileiro.

Certo dia, que agora não me lembro qual foi, percorrendo, a serviço, as casas comerciais desta cidade, encontrei, pregando na parede de uma delas, um papel que me despertou a atenção.

Não resta a menor dúvida em que tudo neste mundo está sujeito à lei da evolução e, por conseguinte, tudo passa por transformações, ora para melhor, ora para pior. As teorias científicas, as religiões, os regimes políticos e tudo o mais sofrem tais reformas no decorrer dos tempos, que se tornam coisas completamente diferentes daquilo que eram a princípio. Pois, muito bem. Se tudo neste nosso mundo tão variável se modifica, por que somente a mitologia deveria permanecer imutável? Como criação do cérebro humano ela deveria também sofrer modificações e realmente por elas está passando, eis que as nove musas da mitologia grega já não são nove: são dez.

E como foi que isto aconteceu?

O caso pode ser assim contado: Júpiter, o pai dos deuses, salafrário como era, casou-se ocultamente com a Crise e gerou mais uma musinha que, inesperada e sorrateiramente, entrou para o convívio das nove irmãs e assem elas se tornaram dez.

O diabo é que me encontro em apuros pra dar nome à musinha intrusa, porém, na falta de outro, os adeptos da nova divindade poderão chamar-lhe Crisélia. Pode não estar muito de acordo com a morfologia, mas no fim dá certo. Crisélia presidirá a poesia lamentosa dos comerciantes que vendem sua mercadoria a prazo e são logrados pelos fregueses, entrando, deste modo, em crise.

Quero crer que é muito grande neste mundo o número dos que prestam cultos a Crisélia; mas aqui nesta nossa abençoada terra, pelo que observo, são o Omar e o Zé Benjamin, porque foi exatamente na parede do bar-pastelaria do Zé Benjamin que encontrei a primeira poesia inspirada por Crisélia.

Uma poesia?!

Sim, uma poesia. Sem sintaxe, sem ortografia, sem métrica, sem pontuação, porém era uma poesia talvez muito melhor do que muita besteira que a gente vê publicada por aí, recebendo elogios não sei a troco de quê; uma poesia que, segundo me informou o Zé Benjamim, foi feito pelo Omar e corrigida a seu modo por ele. Para que não reste dúvida sobre o que digo nesta croniqueta, cou transcrevê-la aqui, tal como lá se achava na parede.

Ei-la:

Minha boa freguesia

Fiado só lá no largo
Com o nosso amigo Omar
Ele é boa pessoa
E sei que isto não leva a mar

Lá no Gênico também se compra
O tal fiado sem demora
É também boa pessoa
Principalmente pra quem chora


Duplicata ta no banco
Com o prazo já marcado
O argente quer dinheiro
Não quer saber de agrado

Com prosa não pago emposto
Nem siquer os viajante
Lhe direi com toda franqueza
Sou um pequeno nigociante


Eu trabaio dia e noite
Sacrificando minha família
E todo dinheiro que arranjo
Esparmo côa freguesia.


Muito bem, seus poetas. Parabéns. Perca-se tudo, até os fiados, porém salve-se a idéia e a rima.

Prof Wanderley Ferreira de Rezende

trecho do Livro: Gaveta Velha.

Próximo trecho: Crisélia leva Zé Benjamin para a Fonte Hipocreme.
Conto anterior: O cachoeirense Quinzinho chega ao Céu.

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