Percebe-se que [o documento apresentado no artigo anterior] é uma elaboração conservadora de elementos sociais preocupados com a segurança e a tranqüilidade pública, ameaçadas pela “ociosidade nas classes baixas da população”1.
Os autores do projeto acabam o texto levantando uma questão preocupante para a época: como fazer para organizar, controlar e exigir uma ocupação das “classes baixas da população” e ao mesmo tempo, respeitar o “regime de liberdade” e os “direitos do cidadão” vigentes? Além disto, criticavam que estes direitos dos cidadãos “...eram tão grande que pouca e bem escassa margem havia deixado aos deveres...”, e que nem ao menos eram “compreendidos sequer pela maioria do povo...”. 2
Conforme pode ser observado, a questão do controle sobre uma população vista como vadia, foi uma constante nas pautas dos governadores de Minas durante a Colônia, mas o foi também no Império. O Conde de Valadares foi um dos governantes de Minas Gerais do período colonial que mais de perto percebeu a importância dos vadios para a Capitania. Conforme já visto, Minas Gerais no século XVIII possuía ainda muitas regiões controladas por índios e por quilombolas que precisavam ser trazidas ao controle colonial.
O governador percebeu que os vadios seriam úteis ao projeto de conquista destas áreas, já que a utilização de escravos era onerosa e também perigosa ao sistema, pois, o cativo poderia uma vez na mata, fugir e tornar-se um quilombola. O vadio, além de não significar qualquer gasto para as autoridades (a não ser os referentes à formação das Bandeiras), era um elemento que precisava ser retirado das vilas. Logo, o melhor local para ele, seriam as fronteiras entre a civilidade e a barbárie: os Sertões. Mas não deveriam viver isolados e sem rédeas. Os vadios eram enviados aos Sertões a fim de formarem os Presídios, ou seja, áreas controladas por homens armados que deveriam defendê-la de quaisquer ataques.
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1. Repressão da vadiagem: Proposta enviada ao Conselho Geral da Província, organizando o trabalho e impondo-o aos vadios. 16.12.1831. In: VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides mineiras. S/ed. 1926
2. Ibidem
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